Análise do livro "O cânon das Escrituras", de F. F. Bruce
Análise de
O Cânon das Escrituras, de F.F. Bruce
Título Original: The Canon of Scripture
Autor: F.F. Bruce (1910–1990)
Publicação: 1988
Área: Teologia, Estudos Bíblicos
F.F. Bruce foi um dos mais renomados estudiosos do Novo Testamento do século XX, conhecido por sua erudição acessível e compromisso com a fé cristã. Em *O Cânon das Escrituras*, Bruce aborda um dos temas mais fundamentais para a teologia cristã: a formação e o reconhecimento do cânon bíblico, ou seja, a coleção de livros considerados inspirados e autoritativos para a fé e a prática cristãs.
Estrutura do Livro
O livro está dividido em três partes principais, cada uma explorando aspectos diferentes do desenvolvimento do cânon:
1. O Cânon do Antigo Testamento
- Bruce começa examinando a formação do cânon judaico, que mais tarde se tornou o Antigo Testamento cristão.
- Ele discute a divisão tripartida da Bíblia hebraica (Lei, Profetas e Escritos) e como esses livros foram reconhecidos como autoritativos pelo judaísmo.
- O autor também aborda a Septuaginta (tradução grega do Antigo Testamento) e sua influência no cristianismo primitivo, bem como a questão dos livros deuterocanônicos (ou apócrifos), que são aceitos pela Igreja Católica Romana, mas não pelo judaísmo nem pela maioria das tradições protestantes.
2. O Cânon do Novo Testamento
- Bruce dedica a maior parte do livro ao desenvolvimento do cânon do Novo Testamento, que ele considera um processo orgânico e gradual.
- Ele explora como os escritos dos apóstolos e de seus associados foram reconhecidos como autoritativos pelas primeiras comunidades cristãs.
- O autor discute critérios como apostolicidade, ortodoxia doutrinária e uso litúrgico na seleção dos livros do Novo Testamento.
- Bruce também analisa os debates sobre certos livros, como Hebreus, Apocalipse e as epístolas menores, que foram questionados em alguns círculos cristãos antigos.
3. O Cânon e a Autoridade
- Na parte final, Bruce reflete sobre a relação entre o cânon e a autoridade das Escrituras.
- Ele argumenta que o cânon não foi imposto por uma autoridade central, mas emergiu naturalmente da vida e da prática das comunidades cristãs.
- Bruce também discute a importância do cânon para a teologia e a espiritualidade cristãs, enfatizando que a autoridade das Escrituras deriva de sua inspiração divina e não de decisões humanas.
Análise Crítica
Pontos Fortes:
1. **Erudição Acessível**: Bruce é conhecido por sua capacidade de comunicar ideias complexas de forma clara e acessível. Isso torna o livro útil tanto para acadêmicos quanto para leigos interessados no tema.
2. Abordagem Histórica: O livro é profundamente enraizado na história, oferecendo uma visão detalhada do desenvolvimento do cânon ao longo dos séculos. Bruce usa fontes primárias e secundárias de maneira eficaz para sustentar seus argumentos.
3. Equilíbrio Teológico: Bruce mantém um equilíbrio entre a fé cristã e a crítica histórica. Ele respeita a tradição cristã, mas não hesita em abordar questões controversas, como a inclusão ou exclusão de certos livros.
4. Foco no Processo Orgânico: Uma das contribuições mais significativas de Bruce é sua ênfase no processo orgânico e comunitário de formação do cânon, em vez de uma decisão unilateral de autoridades eclesiásticas.
Pontos Fracos:
1. Foco no Cristianismo Ocidental: Embora Bruce mencione brevemente o cânon em tradições orientais, como a Igreja Ortodoxa, o livro é predominantemente focado no desenvolvimento do cânon no cristianismo ocidental, especialmente no contexto protestante.
2. Pouca Atenção aos Apócrifos: Bruce dedica relativamente pouco espaço aos livros deuterocanônicos (apócrifos), que são importantes para a Igreja Católica e as tradições ortodoxas. Uma análise mais aprofundada desses textos teria enriquecido o livro.
3. Visão Otimista do Processo: Alguns críticos argumentam que Bruce pode ter subestimado os conflitos e disputas que marcaram a formação do cânon. Sua visão de um processo orgânico e relativamente harmonioso pode não capturar plenamente a complexidade histórica.
4. Falta de Engajamento com Teorias Contemporâneas: Publicado em 1988, o livro não engaja profundamente com teorias mais recentes sobre o cânon, como as propostas por estudiosos como Brevard Childs ou James Sanders, que enfatizam a dimensão teológica e comunitária do cânon.
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Conclusão
*O Cânon das Escrituras* de F.F. Bruce é uma obra seminal que combina erudição histórica com uma profunda reverência pela autoridade das Escrituras. Embora o livro tenha algumas limitações, como o foco no cristianismo ocidental e a relativa falta de atenção aos apócrifos, ele continua sendo uma referência indispensável para quem deseja entender como a Bíblia chegou à sua forma atual. A ênfase de Bruce no processo orgânico e comunitário de formação do cânon oferece uma perspectiva valiosa, que ressoa tanto com estudiosos quanto com cristãos praticantes. No entanto, leitores interessados em uma visão mais abrangente ou atualizada podem precisar complementar a leitura com obras mais recentes que abordam o tema sob diferentes perspectivas.
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